Perspectivas

Wellington Antonio de Assunção

Acordei! Hoje será mais um dia comum de trabalho.

Que será que hoje encontrarei? Que tipo de pessoas atenderei?

Já se passou boa parte do dia, já passa da uma da tarde.

Chegou um rapaz, não me chama muita atenção, é um rapaz comum:

Tem altura comum, cor dos olhos comum, cor do cabelo comum,

Tipo de cabelo comum, enfim, apenas um rapaz comum!

Que será que ele pedirá? Casquinha de baunilha, mista ou chocolate?

Ele paga, recebe seu troco, agradece, afasta-se um pouco,

Não me parece que ele esteja deleitando-se no sorvete,

Ele o devora em poucos minutos. Será que está para pegar o trem?

Se for este seu objetivo, melhor correr, o trem já vai partir!

Não, não é o trem que ele aguarda, ele posiciona-se um pouco distante de mim,

Ele olha fixamente para um lado, parece que espera alguém,

Parece alguém importante, será um amigo que há muito não vê, ou sua mãe,

Será sua namorada e ele esteve em viagem e terão seu romântico reencontro?

Será que essa alguém virá da esquerda ou da direita, ou do trem?

Não sei, começo a ficar apreensiva, que desenlace terá esta história?

Posso sentir, mesmo a certa distância, seu coração e sua respiração ofegante.

Seu corpo responde com esperança a cada pessoa que se aproxima.

Quem será esse alguém? Como será que se parece? Será homem ou mulher?

Ele está ouvindo algo no fone de ouvido. Que será que ele ouve? Será que o acalma?

Será Rock, Samba, pagode, axé, clássica, Forró, sertaneja, Bossa Nova? Que estilo será?

Já passam vinte minutos desde sua chegada. Será que ele está muito adiantado?

Muitas pessoas vêm e vão, será que seu alguém é uma delas? Será que o alguém virá?

Ele pega o celular, será uma mensagem? Será o alguém dizendo: “Estou chegando!”?

Seu coração acelera ainda mais, é claro que ele está ansioso.

Percebo, não sou a única a acompanhar o drama do rapaz.

Mais uma pessoa também o observa. Parece que ela tem a mesma curiosidade que eu!

Não fosse ela a menina da loja ao lado, eu poderia pensar que é o alguém do rapaz.

O tempo passa, mais dez minutos e nada, ele não muda de direção seu olhar.

Salvo, claro, umas olhadas para o lado oposto (será que fui descoberta?).

Ele agora mede seus batimentos cardíacos. Mais uma curiosidade me assalta.

A quantos batimentos por minuto estará seu coração?Será que a tanto quanto o meu?

Já se passaram trinta e oito minutos desde a sua chegada. Ele está inquieto.

Mas, uma inquietação de ansiedade, apesar de tudo, mantém-se resoluto. Imóvel!

Passaram-se cinquenta minutos desde a sua chegada. Será que ele terá um final feliz?

Mas, chegou alguém, é uma menina, é muito bonita. Ela vem em sua direção.

Ele vai ao seu encontro, é ela o seu alguém, será ela sua namorada, prima, irmã?

O coração dele torna-se definitivamente audível, mesmo à distância!

Eles se abraçam, é um abraço forte e terno, não é rápido, parece mais um ritual.

Um abraço de alguns segundos, mas, acredito que pra eles só existam um ao outro.

Nada, nem o tempo, nem a estação, nem os espectadores, nem mesmo eu existo.

Apenas existem eles. Um abraço fruto de espera e ansiedade dele e dela.

Será que tomarão o trem? Será que irão para a esquerda, ou para a direita?

Eles voltam pelo mesmo lugar que tanto o jovem quanto a jovem viram.

Aquele rapaz comum, não é mais tão comum, ele segue seu com a outra jovem.

E minha vida, volta ao que era no princípio... comum.

Estou atrasado, estou atrasado, não posso me atrasar!

Cheguei! Não me atrasei! Mas, estou ansioso, meu coração salta pela boca!

Comerei algo, quem sabe não alivia minha ansiedade?! Tomarei uma casquinha então!

Uma casquinha de chocolate, por favor. Muito obrigado. Afasto-me, vou esperá-la!

Será que ela vem? Ela não desmarcou então ela virá! Afinal, tem de ser hoje!

Como minha casquinha em pouco tempo, quase não sinto o gosto!

Falta muito ainda pra hora do nosso encontro. Quanto será que terei de esperar?

Sinto minha respiração e ouço a batida do meu coração. Será que chamam seu nome?

Onde será que ela está? Será que também está ansiosa? Como desejo vê-la!

Engraçado, nunca pensei em ficar assim, ansioso. Só vou entregar uma pequena coisa!

Mas, será que ela vai gostar? Que será que ela achará de meu presente? Escolhi certo?

Sinto meu coração batendo, ouço minha respiração, não sei como será na grande hora!

Sei que é visível o movimento de meu peito. E é audível meu coração!

Várias pessoas vêm e vão, de um lado para o outro, mas, nenhuma delas é ela!

Fico apreensivo a cada pessoa que se aproxima! A qual quer momento ela pode chegar!

A loucura já toma a mim por inteiro, Vejo sua face em todos, e já não vejo ninguém!

Meu telefone toca, é uma mensagem dela. Ela se atrasará. Será que irei agüentar?

Será que meu coração suportará? Será que terá forças para continuar batendo ao vê-la?

Será que não desistirá de bater? Se ele está acelerado agora, acelerará mais?

Quanto mais esperarei? Será que mais alguém me observa? Será que ela me observa?

Será que quer ver até onde vai minha ansiedade? Será que está pensando agora?

Será que ela também está aflita? As pessoas passam, e vai cada um para seus cantos.

Elas vêm não sei de onde, e vão para um lugar que desconheço.

Outra vez meu celular toca, será ela de novo? Não, é só uma mensagem comercial!

Percebo que um garoto e uma menina estão tirando fotos. Mas, nada me distrai!

Não posso perder o momento que ela chegará! É a culminância de minha espera!

Passam-se os segundos, que mais parecem dias, e os minutos parecem que não têm fim!

Enfim, vejo um rosto conhecido! É ela! É ela! Ela veio! A espera é recompensada!

A abraço! É como se todo o tempo passado e toda a angustia não existissem mais!

Não, na verdade não existiram mesmo! Falo algo com ela, as palavras são traiçoeiras!

As palavras diminuem a alegria que sinto em vê-la! Dirigimos-nos ao nosso caminho!

Estamos atrasados! Mas, estou feliz, pois, tudo valeu a pena!