quarta-feira, 16 de junho de 2010

Não aos “Relacionamentos Pré-Moldados”

Wellington Antonio de Assunção

As edificações pré-moldadas foram, em minha opinião como leigo na área, um dos maiores avanços na área das construções, isso porque são práticas, fáceis de fazer, baratas, e o mais importante em nossa sociedade, economizam muito tempo. Porém, apesar de práticas, as construções pré-moldadas não podem ser comparadas em beleza com outras construções do estilo Clássico, Gótico, etc. Apesar de serem planejadas, são planejadas para não terem de levar muito tempo para serem construídas. Nossa sede de rapidez pelas coisas, e o pensamento que mais vale o lucro, que tempo é dinheiro, nos fizeram esquecer a beleza de uma casa projetada e construída com o tempo. E o prazer de olhar 10 anos depois e lembrar do esforço e do sacrifício, e o valor que aquela alego-ria do lar (a casa) tem pra nós os moradores.

Da mesma forma, quando falamos de relacionamentos (sejam eles amorosos ou fraternais), o quê eu denomino como “Relacionamentos Pré-moldados” foi um dos maiores retrocessos. Basicamente, buscamos trazer para nossas relações conceitos utilizados em setores em nossas vidas, como os setores comerciais, no entanto, parece que nos esquecemos que há certos setores em nossas vidas em que as regras da sociedade atual conflitam. Mas, como temos intelecto muito avançado, tentamos driblar esses conflitos, afinal, tudo deve ser válido em nome do progresso, ou do “Just Time”. O Pequeno Príncipe (Antoine De Saint-exupery), já dizia na fala da Raposa: “(cativar) É uma coisa muito esquecida...” “Significa ‘criar laços...’”; "A gente só conhece bem as coisas que cativou. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos” (parênteses acrescentado). Vivemos em uma geração onde tudo deve ser rápido, e perdemos a habilidade de cativar e ser cativado. Hoje, com os vários sites de relacionamentos e as tão famosas salas de Chat, que vão dos gostos mais gerais aos mais específicos, tudo tem de ser rápido. Não gastamos mais que cinco minutos escrevendo algo sobre alguém (isso quando escrevemos ao invés de copiar uma mensagem de algum lugar e colar), e ferimos pessoas com uma frieza que seria apreciada pelos maiores torturadores da história.

Eu estava há alguns meses assistindo o final de um grande reality show em uma emissora de televisão, e o objetivo deste programa era que irmãs gêmeas encontrassem entre um número x de participantes o amor de suas vidas, o programa deve ter durado cerca de 2 meses. No fim do programa as duas irmãs escolheram a mesma pessoa (certo rapaz), e esta pessoa teve de escolher entre as duas. Ele fez a escolha dele, o quê decep-cionou muito a irmã preterida. Porém, ao fim do programa, havia um especial, onde as irmãs iriam lavar a roupa suja, então houve certo momento em que perguntaram para o rapaz alguma coisa que me foge da memória. E ele disse que se a irmã preterida hou-vesse agido diferente em uma determinada ocasião, ele teria feito outra escolha, mesmo tendo dito anteriormente que havia escolhido a outra irmã porque a amava. Bem, não preciso nem dizer que a outra irmã ficou ultrajada. Onde estava então aquele amor? Que envolvimento este rapaz tinha com essas moças, e até mesmo, que envolvimento tinham estas moças com este rapaz, visto que eu as vi beijando outros rapazes e outras moças quase que imediatamente após os encontros com este rapaz. Lembro-me que diversas vezes o tal rapaz se mostrou muito confuso e sem saber o quê (ou melhor, quem) ele queria. Apaixonou duas moças sem ter noção de que “eternamente responsável” é eternamente responsável.

Na semana seguinte, na mesma emissora estava começando outro reality show, onde dessa vez, o objetivo era ser (como o próprio nome do programa dizia) “O mais novo melhor amigo de infância” de determinada artista pop. Neste programa, a própria artista chamava os participantes de seus bonecos. O programa deve ter durado tanto quanto o outro, mas, eu me pergunto qual a importância dada à palavra “AMIGO”? Mais que isso, como chamar alguém de bonecos? Bonecos não têm sentimentos, e são substituíveis. Será porém que essas pessoas pararam pra analisar que estavam sendo usadas? Não chamo qualquer um de amigo, e meus amigos de infância, são aqueles que conheci em minha infância, o quê não faz de meus amigos mais recentes menos impor-tantes.

Bem, em uma sociedade onde em dois meses se encontra o amor de sua vida, ou seu amigo de infância, onde não há tempo para cativar, e onde as mudanças de grandes decisões de relacionamentos podem ser feitas apenas por impulsos momentâneos, em que alicerces são erguidos os relacionamentos? Em nosso contexto, deveríamos então estranhar as taxas de divórcios ou a existência de casamentos que em meio a esse turbi-lhão de confusão seguem firmes e fortes? Que dizer então das amizades?


Tive uma namorada que me disse uma coisa que reflito sobre isso até hoje. Ela disse: “- minhas amizades são todas fundamentadas pelo interesse, eu posso proporcio-nar algo a meus amigos e amigas, e eles me proporcionam em troca. Por exemplo, mi-nha melhor amiga... Ela chegava sempre tarde na escola, e precisava de alguém que ajudasse a convencer o porteiro a deixa-la entrar, enquanto isso, ela me pôs no grupo mais popular da escola.”. Sinto pena dela, pois, no momento em que um não precisar do outro ou o outro do um, um ou outro será descartado. Aliais, falando no tal grupinho popular, segundo ela mesma era um grupo que promovia uma espécie de “rodízio de ficantes”. Então, cada semana os integrantes ficavam com um. É o desejo do coração humano que precisa de outra pessoa, mas, buscando da maneira errada.

Não encontra-se mais espaço para o cativar, para o verdadeiramente conhecer, sejam amigos ou candidatos a um relacionamento amoroso. A grande verdade é que deixamos de conhecer as pessoas com nossos relacionamentos pré-moldados, e nosso conceito fast-food de conhecer as pessoas. Estamos deixando de ser humanos, para vi-rarmos máquinas, dizemos “eu te amo!” com a mesma leviandade com que escovamos os dentes ou tomamos nosso desjejum, tratamos dos sentimentos das pessoas, e até mesmo dos nossos sentimentos como se tudo não passasse de uma negociação entre duas empresas. Inventou-se o ficar para “conhecer melhor a pessoa”, mas, não era essa a função do namoro?! Inventaram-se os sites de relacionamento para conhecermos pesso-as, mas, como conhecer uma pessoa estando enfurnado dentro de casa? Não quero com isso dizer que não é possível conhecer pessoas através destes sites (até porque sou usuá-rio de um deles, e muitos amigos meus conheci lá), não é o local que faz a diferença, mas, a atitude diante da situação. Busco aprofundar meus relacionamentos com meus amigos, mesmo os virtuais.

Por mais contraditório que possa parecer, o tempo não é sempre sinônimo de um relacionamento bem construído ou mal construído. Um bom exemplo disso, é que há um grupo de pessoas que convivem comigo há 4 anos, porém, nunca as conheci verda-deiramente, nem tão pouco elas me conhecem. Mas, há uma pessoa, uma jovem em es-pecial, que por mais que pareça contraditório depois de tudo que falei até agora, a co-nheci em um site de relacionamentos, não a conheço nem há um mês e meio, e até sába-do passado nós nunca tínhamos nos visto. Mas, ela me cativou de uma forma como ne-nhuma pessoa jamais fez, ela chegou ao cerne de minha alma, e goza de minha total afeição e confiança. Mas, não pensem que nosso relacionamento é uma espécie de rela-cionamento fast-food. Não, ela me conhece bem, e eu a conheço, alicerçamos juntos as bases desde o início, ela me cativou, teve um ritual, gastamos tempo precioso um com o outro. E não há bem mais precioso que o tempo, o tempo não volta; não dá pra guardar; nem pra devolver, o tempo é o melhor presente que se pode dar a alguém, mas, como não se guarda em uma caixa nem tão pouco se pode embrulhar, não damos o valor que ele merece. Mas, voltando ao assunto daquela jovem, como eu disse nos encontramos (pois, é possível encontrar alguém que não se conhece, e conhecer alguém com quem jamais dividiu uma sala) no último sábado ela me fez uma agradabilíssima surpresa, e nos abraçamos, acredito que jamais abracei alguém daquela forma. Não era só um abra-ço, mas, a culminância de todo o nosso processo de conhecimento um do outro, estáva-mos selando dessa forma todo o processo anterior aquilo. Cada abraço nosso,será pra mim uma recordação deste momento, será como recordar a primeira vez que a vi pesso-almente, a primeira vez que olhei no fundo dos seus olhos, um momento onde não exis-tiram mais nada nem ninguém naquele momento, só eu e ela, até mesmo o tempo não era mais nada naquele momento.

Pior que os relacionamentos virtuais cibernéticos, são os relacionamentos em que embora estejamos fisicamente, nunca estivemos ao lado dela de verdade.

Trocamos nossos relacionamentos humanos por apenas relacionamentos pré-moldados, onde vale tudo e tudo não vale nada, e nada do quê se diz tem valor real e o quê tem valor não é real. Será que nossos valores de relacionamentos foram tão afetados a ponto de não podermos mais voltar atrás? Será que na mesma proporção em que so-mos eternamente responsáveis pelos que cativamos, estamos eternamente entorpecidos com a forma tão superficial de nos relacionarmos? Estas perguntas só serão realmente respondidas quando tentarmos nos relacionar com humanos como humanos novamente.

Um comentário:

  1. Oie Well, tudo bem?
    Venho , ao som de Pais e filhos, comentar...
    Deveria ter feito isso a muito tempo, mas vc conhece a nossa rotina de normalista...
    Enfim, ao comentário...
    O que posso dizer... eu adorei!! Na verdade eu queria mais. Um tema tão atual e intrinseco no subconsciente coletivo, deveria ser discutido mais, esmiuçado mais. Não deveria ter parado em um texto. Meu caro, não sei que graduação pretendes cursar, mas tens na mão uma intrigante monografia. Invista nela, quando tiver tempo, é claro.
    Agora, sobre o texto...
    Eu poderia compará-lo a uma escultura em madeira, rica em detalhes e já lichada. Mas, ainda falta as pinceladas de verniz...
    Então... acho que já falei demais!!
    Rs!
    I golpo ro orbissi tes iá!
    ;)
    Beijos da Mari!!

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